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sábado, 14 de maio de 2011

Pará Grande - Dividindo a Pobreza


É inquietante a falta de debate sobre a divisão do Pará. Embora o assunto não seja novo na mídia, nem no parlamento, é incrível a falta de debate. 

O governo do Estado tem a obrigação de promover ou fomentar quem faça um grande debate, amplo, democrático, pedagógico, didático, enriquecedor.
Quem tem o discurso, hoje, são as lideranças autoproclamadas do divisionismo. Logo, é um discurso passional por natureza; casuísta, superficial, demagógico – exatamente, o modelo mental que costura os interesses políticos-eleitorais. Nada mais do que isso. Duvido que essas lideranças estejam preocupadas com os custos do retalhamento geográfico, econômico, financeiro.
O que se tem produzido como discussão é emocional e interesseiro. A verdade é que, como o um Estado só não comporta os interesses de todos os políticos, os projetos individuais, o poder (e principalmente a cobiça pelo dinheiro que acreditam tirar da criação dos dois Estados) resta a tese do divisionismo.
Quanto mais território autônomo, mais cargos; mais podres institucionais para criar; cadeiras no parlamento dos três níveis para preencher; vagas para ocupar com cabos eleitorais e apadrinhados. E mais possibilidades dessas lideranças se darem bem. Essa é a história do Brasil!
E nós, daqui, da banda atlântica do Pará, que pelas projeções ficaremos com o pedaço mais pobre do Pará, estamos com síndrome de avestruz. Acredito que muita gente gostaria de participar de alguma forma, mas carecemos de informações suficientes para defender a unicidade do território paraense. Ou acatar a divisão se for irremediável diante das mudanças econômicas, da transição da história, da realidade social e da gestão do território – esta responsável em parte pelo espírito divisionista, tal a reclamada “ausência do poder público” nos confins do Xingu, nas entranhas do Tapajós, nos barrancos do Tocantins e na indomável Terra do Meio.
Assim, no seco, na lata, não dá para aceitar que tudo transcorra sem que se conheçam as variáveis, os fatores, o real dessa campanha que no Tapajós não é de hoje como açodada é a proposta de Carajás.
Onde está o governo do Estado nesse cenário? Pequenas aspas de fala do governador no noticiário deixam mais dúvidas do que esclarecimentos, mais angústia do que convicção e convencimento da justeza das causas de futuros “tapajônicos” e “carajaenses” . O discurso da democracia, que a sociedade é livre para decidir o que ela quer é muito fácil e genérico – é mero discurso, apenas. É prosélito. Ponto! É preciso algo mais.
Onde estão as entidades representativas? Ora, estas também adotam o mesmo modelo mental dos políticos. Não querem perder sua fatia de poder cabalado pelas congêneres e afiliadas em todos os territórios que pretendem se emancipar. É da natureza do poder e da política principalmente. Quem quer perder espaço? Todavia, no caso em tela, perde-se quase tudo de qualquer maneira.
O noticiário da imprensa tem se limitado ao factual (superficial, diga-se de passagem) e a opiniões são mais pontuais ainda. E anódinas; igualmente tíbias. Nas academias, onde se acredita nascer o pensamento límpido e inteligente, cartesiano ou não, de lá parece que nada vem em profundidade.
No geral, há uma inquietante letargia inquietante. Não se trata de uma questão só do Pará, mas da Amazônia, do Brasil. Por que não?
O povo, coitado, esse ente que vira massa de manobra dos políticos, não sabe o que os aguarda – nem para o bem, nem para o mal. Já se disse, em estudo do IPEA, um dos institutos de inteligência do governo federal, que a divisão territorial do Pará é inviável do ponto de vista do custo de manutenção dos novos Estado. Alguém já ouviu algum político reverberar isso? Onde estavam as lideranças paraenses – com e sem mandato – no dia em que a Câmara pôs na pauta a divisão do Pará?
Esse é um assunto para se falar em todos os fóruns; em todos os níveis; até nas igrejas e nos ônibus; lares, fábricas e escritórios. Nas faculdades e escolas principalmente. E nos legislativos. Mas…, a tomar como exemplo o desempenho dos nobres deputados – a Assembleia Legislativa do Pará está mais preocupada em tapar com a peneira o sol que ilumina os desvios financeiros, as falcatruas, as falsas folhas de pagamento e seus fantasmas – dos deputados e dos vereadores…, é deles que não se pode esperar muita coisa. Deles, nada de objetivo, elevado e enriquecedor virá. Anotem!
Na internet, onde estão as tais redes sociais? Tão boas para fofoquinhas e até para dar antes de qualquer meio de comunicação a morte do terrorista saudita, estão ausentes da questão. Mas dos “tuiteiros”, como de qualquer outra comunidade, não se pode esperar muito se não forem subsidiados e mobilizados como agentes de difusão de informações isentas e de qualidade. Assunto é que não falta, a começar pela questão constitucional de quem vota nos plebiscitos. Uma boa coleção de artigos elucidativos podem ser encontrados no blog do Fábio Castro (hupomnemata.blogspot.com/p/debatendo-divisao-do-para.html). São conteúdos úteis para esse debate que não existe.
Ou se adota um posicionamento efetivo, amplo e popular para decidir democraticamente ou enfrentaremos a estupidez de dividir não exatamente o Estado, mas a pobreza.
Por: Nélio Palheta

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